sábado, 29 de janeiro de 2011

Normandia - Saint Michel e a guerra

Viagem França 2010 / 2011 - Parte 5

Dia 11 - 08 de janeiro de 2011, sábado
Como não fomos para Saint-Malo ontem, caímos na estrada bem cedinho, não tinha nem amanhecido ainda. Vimos o sol nascer na estrada e o dia estava lindo. Mais perto do destino final, decidimos ir direto para o Mont Saint-Michel. Senão, teríamos que fazer um percurso de mais uns 50km até chegar lá só para deixar as malas. E ainda teríamos que ir até Saint-Michel.
A estradinha que leva até o Monte é incrível. A "cidade" fica em cima de uma pedra, no meio do nada, com o mar se ao redor, deixando-a totalmente isolada em certos períodos do ano, dependendo da maré.
Na entrada da cidade, tem uma placa dizendo até que horas o carro pode ficar no estacionamento. Na época em que estivemos lá, a maré não sobe o suficiente para cobrir o estacionamento. Ufa!
Entramos na cidadela e passeamos pela Grand Rue, as rua principal, onde fica o comércio e os restaurantes. Fomos até o final da rua, que chega à Abadia. A cidade é toda murada e tem torrões de onde podemos observar a paisagem ao redor.
O sino da igreja bateu 12h e subimos toda a escadaria para assistir à missa. (Quem só vai à missa, não precisa pagar. Eles dão um adesivo para você colar na roupa, dizendo que você não tem direito à visita da abadia, só vai assistir a missa.)
A nossa missa foi rezada na cripta. Devia ter umas 15 pessoas e mais 15 religiosos, entre padres e freiras. Foi toda cantada em francês e eu fui acompanhando pelo livro de cantos. Muito lindo, com um clima bem intimista. É uma oportunidade que não dá para perder!
No Mont Saint-Michel, o clima costuma ser bem nebuloso. Tem uma bruma que cobre o monte quase constantemente, alimentando o ar de mistério que paira por ali. Na saída da missa, tivemos o único momento de céu realmente azul do dia. Mas foi apenas um lampejo.
Saímos um pouco antes do fim e fomos almoçar. Primeiro, tentamos ir ao Mère Poulard, o mais famoso e mais caro da cidade. Estava "cheio" e o maitre não foi muito atencioso. Então, fomos ao Les Terrases Poulard, do mesmo grupo, mas mais simples. De entrada, comemos os famosos omeletes. Meu veredito: não é bom! Eles batem o ovo em neve e colocam essa espuma no prato, com um pequeno pedaço de omelete por cima. Vale a pena provar... do outro!
(No Mère Poulard, eles ficam batendo o omelete aos olhos dos clientes. É mais uma atração da casa.)
O prato principal típico é o agneau prè-sale, que é o cordeiro que fica pastando nas terras que cercam o monte. Como a maré cobre essas terras, elas ficam salgadas. Então, o cordeiro já tem a carne salgada.
Depois do almoço, escolhemos o nosso hotel. Chiquérrimo ficar no Mont Saint-Michel! Só viajando no inverno mesmo... Descansamos um pouco no nosso quarto, com vista para o mar e depois fomos visitar a Abadia.
Ela foi realmente construída em cima do rochedo. As pedras funcionam como a estrutura da construção. A igreja abacial começou a ser construída no ano 1.000. A nave é uma abóboda revestida por traves de madeira, como vimos na Sala dos Estados, em Blois. Tinha até uma maquete para mostrar como funciona esse tipo de construção.
Construído em cima da "Merveille", fica o claustro, lindo! Assim como o claustro, as salas em arco são lindas.
Uma grande roda era usada para subir alimentos por uma rampa super inclinada até a abadia, que, em 1820, virou uma prisão.
Saindo da abadia, passeamos pelas muralhas da cidade. Exploramos vários caminhos e chegamos até a descer a uma "praia". A cidadela tem vários percursos diferentes. Deve ser legal se perder pelas ruelas, sem cair na rua principal.
Fomos até o carro para pegar umas coisinhas e aproveitamos para admirar o monte iluminado. Vê-lo de noite é espetacular! Pena que as fotos não refletem o que vemos ao vivo...
Jantamos no restaurante Auberge St. Pierre. Comemos uma assiete de fromage e duas pizzas, que estavam ótimas. Eu ainda tomei uma sidre, típica da região da Normandia. Valeu a pena descobrir que cidra é tudo igual, ruim em qualquer lugar!

Dia 12 - 09 de janeiro de 2011, domingo

Fico até na dúvida do que é mais bonito: o anoitecer ou o amanhecer no Mont Saint-Michel. Foi um privilégio ver o dia nascendo da janela do nosso quarto. Logo depois que o sol nasceu, foi incrível ver a maré, que subiu super rápido. Fiquei até com medo do carro largado lá no estacionamento, mas acho que os saint-michelinos sabem mais que nós... Cobriu todo o banco de areia por onde as pessoas caminhavam no dia anterior, para ver o outro de frente (ou de costas).


Tomamos café no La Belle Normande, um restaurante cuja atração principal são os passarinhos. A dona deixa uma massa de crepe em cima do balcão e os passarinhos invadem. Eles comem as migalhas do chão e até de cima da mesa. São engraçadinhos e bem atrevidos.


Deixamos o monte para trás e pegamos a estrada em direção à costa. As construções e casas da Normandia têm um estilo bem diferente do que vimos no Vale do Loire. São de pedra, de cor mais escura e com madeirame aparente.
A nossa primeira parada foi em Pointe du Hoc, que o guia descrevia como tendo uma "superfície lunar". Quando li, não associei bem ao que isso significava. Quando chegamos lá, entendi na hora. São dezenas de buracos enormes, com até 6m de profundidade, ao lado de bunkers de concreto e eixos onde ficavam presas as metralhadoras.




Quando estávamos chegando, no caminho que leva até a ponta, tinha dois buracões e eu falei, brincando, que deviam ser buracos de bomba. O pior é que eram mesmo...
Pointe du Hoc é o local que fica bem no meio, entre as praias de Utah e Omaha. Então, os americanos queriam destruir a artilharia alemã, que prejudicaria a tomada das duas praias. Hoje, o local é incrivelmente calmo e pacífico. Com céu azul, a grama verdinha, o mar tranquilo e os passarinhos cantando, a típica cena bucólica de filme.
Só faltam algumas placas com informações e explicações sobre a II Guerra. Com certeza o passeio ficaria bem mais interessante.
(* Na saída, vimos um passarinho arrancando e devorando uma minhoca inteira da terra!)

Em seguida, fomos ao Cemitério Americano. Não entendo como esse lugar não consta do guia da França. Além do cemitério, tem um museu sobre a Operação do Dia D, com vídeos, depoimentos de soldados, artigos originais (botas, cigarros, chicletes), além de informações super interessantes sobre a logística e o planejamento da Operação Overlord. Explicava questões como a conjunção dos fatores climáticos que possibilitaram o ataque (maré, lua cheia), e listava tudo que cada soldado precisava carregar, além de todo o material que era necessário para sustentar o ataque (comida, munição, armas).
É tudo muito bem feito, com bom gosto e cuidado. É tão bonito que chega a ser emocionante. O auge é a saída do museu, quando passamos por um corredor para chegar ao cemitério propriamente dito. Uma mulher vai lendo os nomes de todos os soldados enterrados lá. Fico arrepiada só de lembrar...
O cemitério é um brinco, grama aparada, cruzes branquinhas.

Daí, descemos até Omaha Beach, que estava com a maré alta e tinha uma faixa estreita de areia. Almoçamos num bar super simpa, de um casal velejador, Eolia.


Em Longues-Sur-Mer, tinha uma bateria de canhões alemães intactos, dentro dos seus bunkers. A última parada foi Arromanches, onde fica o cemitério de embarcações aliadas naufragadas pelos alemães, algumas na praia e outras no mar, formando uma linha de barcos.


Para quem gosta de II Guerra, super recomendo esse passeio. Se não tiver o dia inteiro, fique apenas com os dois primeiros locais: Pointe du Hoc e Cemitério Americano. São imperdíveis!

Terminamos o nosso dia em Honfleur, sugestão maravilhosa da minha tia.
Honfleur fica perto de Le Havre, uma de cada lado da foz do Sena. Sobre a foz do rio, a Ponte da Normandia se ergue monumental.
Como já tinha anoitecido, não conseguimos ter uma visão geral da cidade. Ficamos no hotel Le Cheval Blanc, com vista para o porto.
Saímos para passear e ainda pegamos algumas lojas abertas. A cidade é encantadora, com várias galerias de arte, com os artistas que tínhamos visto no Marais e que o Dani tinha adorado.
Jantamos no restaurante Le Deux Ponts (da Normandia e do porto de Honfleur). De entrada, comi Saint-Jacques e o Dani, uma assiete de fruits de mer, com o tempero da casa, nenhum! Mas, com o tempero dele, ficou ótimo. O meu prato principal foi um magret de canard e o Dani comeu camarões. Antes da sobremesa, ainda tinha uma assiete de fromage, com explicações da garçonete sobre a graduação, do mais fraco para o mais forte. Como digestivo, tomei um pommeau, uma mistura de cidra + calvados. Delícia!

2 comentários:

  1. Lulu, seu blog é ótimo.

    Você mencionou sobre os locais históricos das batalhas da Normandia não estarem indicados em guias. Isso se deve a um pouco de sentimento contraditório.

    O povo europeu sofreu muito com as duas guerras mundiais com intervalo de 20 anos entre elas. A França foi invadida nas duas guerras e na Segunda foi ocupada por 5 anos pelos nazistas.

    Ainda hoje a guerra é muito marcante para os antigos gauleses.

    Entretanto essas dicas sobre os pontos de interesse do Dia D e de outras batalhas da II Guerra se encontram disponíveis em sites e blogs especializados.

    Estou planejando meu roteiro que inclui as praias normandas do desembarque no Dia D, passando pela (fracassada) Operação Market Garden na Holanda e pela Batalha do Bulge, nas Ardenas belgas (Bastogne, Foy, Recogne e Noville).

    Sou Oficial da Reserva do Exército e um curioso da II Guerra, leio bastante sobre o tema.

    O Cemitério Americano que você visitou é o de Colleville-sur-Mer. Ele foi cenário para as cenas iniciais e finais do estupendo "O Resgate do Soldado Ryan", do diretor Steven Spielberg e Tom Hanks como protagonista.

    A dupla Spielberg/Hanks produziu depois a monumental série da HBO "Band of Brothers", baseada no livro homônimo de Stephen E. Ambrose. Recomendo demais a série de tv e a leitura do livro. Ambas dão excelentes dicas para quem quiser fazer uma viagem com a temática militar da II Guerra.

    Um outro livro excelente que pode ser utilizado praticamente como guia de viagem à Normandia é o do baterista dos Paralamas (ele mesmo, acredite) João Barone:
    "A Minha Segunda Guerra". Esse infelizmente você só encontra em sebos. (www.estantevirtual.com.br)

    Sobre o Dia D o historiador Stephen Ambrose lançou uma obra de referência: "O Dia D A Batalha Culminante da Segunda Guerra".

    Para mais dicas, textos e fotos interessantes procure no Facebook a página "War Trip" de um grande amigo meu, Carlos Hennrichs. O Carlos tem vídeos maravilhosos de suas muitas viagens em seu canal no Youtube, que também recomendo.

    Veja esses vídeos fantásticos dele: (pesquise no Youtube)

    Vídeo 1: "The Most Amazing Trip To Bastogne"

    Vídeo 2: "The Most Amazing Trip To Coleville-sur-Mer

    As imagens são emocionantes.

    Indico também a você meu blog. Ainda sou iniciante nessa arte. Estou ainda aprendendo a usar a ferramenta do Blogger mas já fiz alguns textinhos. Recomendo esse a você:

    http://natrincheiradofalcon.blogspot.com.br/2014/01/por-que-segunda-guerra-mundial-ainda.html

    Seus textos são muito bons. Parabéns.

    Abraços,

    Allysson

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Allysson.

      Obrigada pelo comentário e pela verdadeira aula de segunda guerra. É um assunto que me interessa bastante, do qual eu gosto muito, mas tenho muito pouco conhecimento, na verdade. Há tempos atrás (mais de cinco anos), eu traduzi um livro sobre o assunto, "GARBO: O ESPIAO QUE DERROTOU HITLER". Acho que foi isso que despertou meu interesse. Aproveite a viagem! Certamente você vai descobrir coisas incríveis por lá.

      Excluir